segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nas asas da felicidade

Culpar o acaso seria entregar muito de bandeja para a vida tanta coisa surpreendente que passamos juntos.  Mas dizer que tudo aconteceu em seu devido tempo, passo a passo, seria menosprezar o inusitado que nos cercou sem dar explicação.

Às vezes me pego parada, pensando, fazendo um balanço da vida diferente que eu (re)criei neste ano. Se namorar é uma arte, tenho a impressão de que viver junto é mais difícil que escrever a terceira sinfonia de Bethoven (e olha que ela representa a luta e a força, hein?).

Pois bem, o que eu sei é que a convivência é um grande aprendizado. Tão singular que nenhuma cadeira acadêmica é capaz de ensinar. E foi nessa brincadeira de viver a vida de gente grande que eu descobri um sentimento ainda maior.

E me acostumei a acordar com você do meu lado, a sentir o cheiro de café na casa inteira e o seu bom-dia antes mesmo de o sol aparecer. Acostumei com as discussões esporádicas, os dias de futebol, a trilha sonora e a cerveja na geladeira.

E morando longe, o coração também tem que aprender a dividir as saudades. E foi na minha última visita a BH, que eu descobri que ainda não sei fazer isso. Depois de insistir durante quase uma semana para você ir comigo - ainda carregar uma pontinha de esperança, já que você apareceu na porta do meu trabalho disposto a me fazer companhia de táxi até o Galeão – tive vontade de largar a mala e deixar a capital mineira de lado quando soltamos as mãos e eu entrei sozinha no portão de embarque.

Sabia que metade de mim estava ficando pra trás, enquanto a outra metade me esperava em outro lugar. Com o coração apertado,eu entrei no avião. Cheio de empresários, pessoas atarefadas e com pressa. Voo lotado. Eu sentei na poltrona marcada, 13 D (janela), e escutando música aguardava o momento da decolagem.

Tal foi a minha surpresa quando a comissária anunciou o fechamento das portas e, naquele avião todo ocupado, uma única cadeira estava disponível: a do meu lado. No primeiro momento, eu pensei que Deus só podia querer brincar comigo, me testando para eu ter que dividir o medo do voo com a tristeza de saber que o seu lugar ficou ‘reservado’ até o último minuto.

Mas, depois de algum tempo, eu entendi. O amor vai muito além do contato físico, da necessidade de abraçar e beijar, da cia diária e a certeza da presença. O amor, o meu amor, é aquele de sentimento único e intenso, que me fez entender que eu não fui sozinha, você esteve comigo o tempo todo.

There you were… and heaven made all so clear…”

domingo, 16 de janeiro de 2011

Na ponta dos pés

“Vamos começar colocando um ponto final. Pelo menos já é um sinal de que tudo na vida tem fim.”

Os aplausos ininterruptos representavam a satisfação do público em me ver pela primeira vez na ponta dos pés. Na verdade, essa foi a justificativa que eu encontrei naquele momento, ao ver o Teatro Alterosa lotado, em pé, no final da minha primeira apresentação de ballet. Desconsiderem, meus caros, eu tinha somente 7 anos e os aplausos foram para a solista que encheu de brilho a nossa simples coreografia . Se bem que ficar na ponta dos pés foi uma das coisas mais interessantes que eu já aprendi e não saberia fazê-lo com tanta classe se não fossem os muitos anos de dança.

Um dia eu acordei e simplesmente quis enxergar além do que eu conseguia, além do que a minha estatura permitia e além do que eu queria ver. O ser humano tem dessas, né? Quando encontra certa estabilidade, certa felicidade delimita o que viver e os reflexos passam a não valer mais. Mais do que ficar na ponta dos pés, consegui me ver por inteiro naqueles 5 cm de diferença que eu ganhei. O sorriso constante e o brilho da minha imagem traduziam tudo o que eu representava para alguns e estava apagada para mim mesma.

 Seguir o compasso da dança é mesmo complicado. Principalmente quando a gente não encontra o par ideal para dançar. E quando achamos que encontramos, descobrimos que foi só a música que fez a diferença. Na verdade, o protagonista da noite não passou de uma pessoa qualquer. Assim, o melhor a fazer é levantar os pés, rodar o cabelo e continuar a dançar no meu ritmo. O mesmo ritmo que sempre me fez ter a certeza de que a minha companhia é boa demais para ser compartilhada com “qualquer um”.

Depois de uma noite cheia de risadas e trilhas sonoras o sol apareceu. Por alguns momentos eu quase acreditei que não seria a última noite. Mas depois que o efeito da cerveja artesanal passou, eu tive certeza que era. E foi. Te ver dormindo representou o ‘amor’ omitido que houve entre nós. As mentiras das duas partes. A brincadeira que nunca foi levada a sério. Quem importa? O ‘amor’ também não é. 

O silêncio dentro de mim era maior do que o do quarto. Os suspiros do seu sono profundo me fizeram ter a certeza de que você estava tranqüilo demais ao lado da inquietude que me consumia. Levantei da cama, recolhi as minhas coisas que ali estavam, recolhi o pouco de mim que ainda restava e, na ponta dos pés, eu saí do seu quarto sem que você percebesse. E saí da sua vida, definitivamente.

Hoje eu sigo serena, com a mesma serenidade que você me tirou no momento que resolvemos brincar de viver. Caminho de cabeça erguida. Olho no espelho e não vejo mais Organização Não Governamental escrita na testa. Cansei de fazer caridade. Parceria é pra quem tem o que trocar, e os meus sorrisos valem muito para preencher as lacunas dos seus dias de solidão. Mesmo que você saiba muito bem como me fazer rir, eu prefiro pagar os palhaços que vivem para isso e, com certeza, serão mais sinceros.

 Ah! Antes que eu me esqueça... nunca fiz nada na ponta dos pés, tudo sempre foi em meia ponta, o que é bem diferente. Só foi igual a nossa história: meia verdade, meia mentira, meia brincadeira, meio amor.

#Now playing: Tudo novo de novo - Paulinho Moska