Meu primeiro chaveiro foi por uma questão de status. Minhas
amigas tinham chaves de casa, do escaninho da escola, da casa da avó, e eu não
sabia nem mesmo pra que servia um. Insisti pra que a minha mãe fizesse uma
cópia das chaves daqui de casa e coloquei em um chaveiro de macaquinho da
kipling, assim me sentia mais madura, uma adolescente com pouco mais de 13
anos que já tinha praticamente abandonado as bonecas.
Fui perceber mesmo a utilidade de um chaveiro quando passei
a sair com amigas e chegar muito tarde em casa. E pouco depois tive que
acrescentar chave do carro, da gaveta do trabalho, do escaninho da academia.
Quando mudei pro Rio de Janeiro virou obrigação carregar as
chaves de casa. Sem pai nem mãe pra me receber, ou irmãos pra abrir o portão, eu
não tinha escolhas. Se eu não o levasse, ficaria horas esperando pra poder pular
no sofá, ligar a TV ou até mesmo sentar na varanda.
O problema é quando as chaves não abrem mais as portas. E o
chaveiro passa a figurar sem sentido, roda de bolsa em bolsa, e às vezes é
confundido quando a procura é por caneta ou moeda, mas rapidamente volta a ganhar
o espaço inútil e escondido.
E você descobre que as coisas mudam, o tempo passa, os
protagonistas da nossa vida saem de cena, entram outros. Você pode nem sempre
entender, às vezes não aceitar, ter dificuldades de conviver, mas é certo de
que a fechadura não é mais a mesma, e a chave certamente não servirá.
E sabe de uma coisa? Não adianta remoer ou sofrer com algo
que já passou. O que ficou no passado tem motivo pra estar lá e ponto
final. O legal da vida é viver e guardar
as lembranças, pra quem sabe um dia perceber que o número de chaves foi
equivalente ao número de aventuras, algumas dispensáveis, outras ‘repetíveis’,
e outras memoráveis. O importante é saber que tem sempre lugar no chaveiro.
Para uma nova porta, uma nova página, uma nova experiência...
Arriscar é preciso.

