quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quando a chave não abre mais a porta


Meu primeiro chaveiro foi por uma questão de status. Minhas amigas tinham chaves de casa, do escaninho da escola, da casa da avó, e eu não sabia nem mesmo pra que servia um. Insisti pra que a minha mãe fizesse uma cópia das chaves daqui de casa e coloquei em um chaveiro de macaquinho da kipling, assim me sentia mais madura, uma adolescente com pouco mais de 13 anos que já tinha praticamente abandonado as bonecas.

Fui perceber mesmo a utilidade de um chaveiro quando passei a sair com amigas e chegar muito tarde em casa. E pouco depois tive que acrescentar chave do carro, da gaveta do trabalho, do escaninho da academia.

Quando mudei pro Rio de Janeiro virou obrigação carregar as chaves de casa. Sem pai nem mãe pra me receber, ou irmãos pra abrir o portão, eu não tinha escolhas. Se eu não o levasse, ficaria horas esperando pra poder pular no sofá, ligar a TV ou até mesmo sentar na varanda.

O problema é quando as chaves não abrem mais as portas. E o chaveiro passa a figurar sem sentido, roda de bolsa em bolsa, e às vezes é confundido quando a procura é por caneta ou moeda, mas rapidamente volta a ganhar o espaço inútil e escondido.

E você descobre que as coisas mudam, o tempo passa, os protagonistas da nossa vida saem de cena, entram outros. Você pode nem sempre entender, às vezes não aceitar, ter dificuldades de conviver, mas é certo de que a fechadura não é mais a mesma, e a chave certamente não servirá.

E sabe de uma coisa? Não adianta remoer ou sofrer com algo que já passou. O que ficou no passado tem motivo pra estar lá e ponto final.  O legal da vida é viver e guardar as lembranças, pra quem sabe um dia perceber que o número de chaves foi equivalente ao número de aventuras, algumas dispensáveis, outras ‘repetíveis’, e outras memoráveis. O importante é saber que tem sempre lugar no chaveiro. Para uma nova porta, uma nova página, uma nova experiência...

Arriscar é preciso.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Quando a vida ensina você a tropeçar...

Sempre acreditei que a felicidade fosse feita de momentos. Meio clichê, eu sei, mas é que o ser humano é tão insatisfeito, que eu diria que os momentos felizes chegam a ser pequenos diante de uma cartela de reclamações constantes. O que as pessoas esquecem é que, se não fossem os obstáculos, a vida seria totalmente sem graça.

Tomar algumas porradas faz parte. O fundamental é saber levantar-se. Quem, no primeiro tropeço, desiste da caminhada é fraco o suficiente para seguir em frente.  A questão não é ter que suportar tudo, isso seria humanamente impossível, nem virar hipocondríaco da vida, o que eu fui muito tempo, e sim juntar forças e experiências para entender que o apego exagerado a qualquer coisa (ou pessoa) vai ser sempre a muleta preferida do medo.

Se você segue em frente ressabiado, certamente terá mais chances de cair e mais dificuldades de se levantar.  As escolhas são feitas por nós mesmos. Se, na sua ‘balança de todo o sempre’, você percebe que o lado mais pesado é a infelicidade pode ter certeza que a queda será constante. E, na maioria das vezes, foi você quem deixou chegar a esse ponto.

O lance é saber prevenir o estresse. Seja no trabalho, em casa, nas relações pessoais. Se algo não faz bem a você, é necessário podar.  Buscamos no outro uma certeza que nos baste, quando nós mesmos não somos suficientes. E aos poucos nos tornamos vítimas de lamúrias constantes, e que, cá pra nós, nem sempre fazem sentido.

Sinto falta de pessoas determinadas, corajosas, ariscas... tudo bem que o mundo não anda nos favorecendo, mas chorar depois do primeiro tropeço tem sido tão constante que eu prefiro trucar a capacidade de algumas pessoas de não saber escolher os protagonistas de sua história. E desce mais uma cartela de remédio para dor de cabeça.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Let it be...


Já estamos em fevereiro e eu ainda vivo a nostalgia do meu 2011. Talvez porque tenha sido o ano mais intenso da minha vida, aquele que eu experimentei o desespero de quase morrer e me deliciei com os prazeres absurdos de viver. Literalmente.

De acidente de carro eu passei para novo emprego, novos amigos e reencontros. Meu coração sacudiu e eu descobri o que é namorar a distância. Aprendi sobre esportes especializados e vibrei muito em final de vôlei.

Show do Misfits, show do Paul, show do Ringo. Precisa de mais alguma coisa? Sim. Deixar registrado o meu nome no lendário Cavern Club, em Liverpool. Tomar vários pints de cerveja em um festival todo de homenagem aos Beatles, conhecer Frankfurt, ouvir o Andreas Kisser tocar ‘Helter Skelter’ na Alma de Cuba - uma antiga igreja da cidade inglesa -, visitar o Moulin Rouge, conhecer o palco de Roland Garros, ir a um jogo dos Reds em Anfield, vivenciar a mitologia grega em Atenas, caminhar pela Tower Bridge e mergulhar no mar Egeu.  Digamos que a minha cota cultural superou as minhas expectativas e me fascinou por completo.

Isso porque eu ainda não comentei sobre a sensação de subir a Torre Eiffel de escadas. A beleza de ver Paris lá de cima, a emoção de conhecer a Acrópole de Atenas, o medo de ver a Mona Lisa me olhando de todos os cantos da sala, a curiosidade em enxergar os olhos do Lennon em sua irmã, a emoção em respirar Beatles por 6 dias consecutivos.

E também foi em 2011 que eu resolvi repentinamente deixar BH e me arriscar no RJ. Seguir o coração e enfrentar um novo obstáculo faz parte da vida. Morar junto, dividir as conquistas, angústias, medos e expectativas nem sempre é fácil. Aprender a cozinhar (nem que seja o básico) e passar roupa também não.

Mas construir um mundo com a sua cara, cheio de pizza e batata frita, regado de muita independência e machucados de tanto tropeçar fazem valer a pena. Principalmente quando no final de tudo isso você percebe que a saudade serviu para você aprender a valorizar os familiares, os amigos, as relações pessoais no geral.

E aí é a hora que você pega o violão que ganhou de presente do namorado, também em 2011, e canta, conta, grita e encanta: “Let it be, let it be.. there will be an answer. Let it be”.